Insatisfação e satisfação profissional dos enfermeiros militares em portugal
- Vaz Folgado, Carlos Manuel
- Jesús Rodríguez Marín Director
Defence university: Universidad Miguel Hernández de Elche
Fecha de defensa: 26 January 2016
- José Antonio García del Castillo Rodríguez Chair
- Juan Carlos Marzo Campos Secretary
- Carmen López Sánchez Committee member
- Paulo Azevedo Dias Committee member
- Mª Carmen Quiles Soler Committee member
Type: Thesis
Abstract
Resumo: No início deste novo milénio, os governos de vários países têm reconhecido a crise que percorre todo o sector de prestação de cuidados de saúde, particularmente na existência de um reduzido número de enfermeiros em todo o mundo, o que, de certa forma, provoca nestes profissionais de saúde, esgotamento e conduz a um conjunto de perturbações psíquicas e fisiológicas, provocadas por agentes diversos que prejudicam ou impedem a realização normal da sua actividade, com origem na atmosfera envolvente em que se encontram no seu local de trabalho. Neste sentido, um variado número de investigadores assinalam que a relação entre a satisfação profissional e o desempenho dos trabalhadores é mais clara e directa que a relação entre ambiente e desempenho, assinalando que a satisfação é um indicador do desempenho (Kopelman et al., 1990; Parker et al., 2003; Patterson et al., 2004; Griffith, 2006). Outros porém, encontraram uma relação significativa negativa entre a satisfação profissional e aspectos relacionados com o desempenho, designadamente com o absentismo e a rotatividade no trabalho e significativa positiva com o rendimento e a produtividade (Saari et al., 2004). Por sua vez, Patterson et al. (2004) assinalam que a satisfação profissional relaciona-se mais com o desempenho quando este é medido através de aspectos económicos, sendo a satisfação profissional um indicador deste tipo de desempenho. Salinas et al. (1994) afirmam que os modelos de satisfação, como por exemplo, o modelo de Vroom, enfatizam que os indivíduos estão satisfeitos com o seu trabalho até ao ponto em que este lhes permita obter o que ambicionam e o seu desempenho será eficiente na medida em que este os conduza à satisfação das suas necessidades. A satisfação no trabalho é importante em qualquer tipo de profissão, não só em termos de bem-estar desejável das pessoas onde quer que trabalhem, mas também em termos de produtividade e qualidade. Assim, no nosso caso, a amostra seleccionada de um grupo de profissionais de saúde, enfermeiros, de uma instituição militar, a variável satisfação profissional reveste-se de singular importância no âmbito da qualidade da gestão dos grupos de trabalho e no modo de relacionamento destes profissionais, quer com os colegas, quer com os seus superiores hierárquicos e fundamentalmente com os pacientes. Na vertente da saúde, a motivação dos indivíduos e a sua satisfação no seu local de trabalho são fundamentais e relevantes para os profissionais de enfermagem, cuja razão de ser, é cuidar da saúde física e mental dos que estão a seu cargo e prestar-lhes um serviço de qualidade. Por isso, o conhecimento e a compreensão do nível de motivação e de satisfação dos enfermeiros constituem factores fundamentais para a organização de modo a alcançar os resultados a que se propõem. Diversos estudos afirmam que existe uma variedade de características individuais que exercem uma influência significativa na satisfação laboral dos profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros. As mais relevantes são contudo, o sexo, a raça, a idade, o estado civil, os filhos e as habilitações académicas. A estas acresce-se outras características que podem, devido à sua relevância afectar a satisfação profissional dos enfermeiros, que são as dissemelhantes particularidades laborais dos funcionários, tais como, o local de trabalho, o horário de trabalho, o tipo de horário, o tipo de vínculo contractual, a responsabilidade de supervisão, as funções de gestão, a especialidade e o tempo de serviço. Diferentes investigações indicam que grande parte dos enfermeiros com habilitações académicas muito elevadas revelam uma propensão maior para a insatisfação laboral (Yakting et al., 2003). Estes profissionais tendem a mudar frequentemente de trabalho, pelo facto das organizações onde trabalham não pretenderem satisfazer as suas necessidades ou não terem capacidade para o fazer (Cavanagh, 1992; Blegen, 1993). Por sua vez, Yamashati (1995) argumenta que existe uma expressão de ligação positiva entre as variáveis idade e satisfação profissional. Isto é, para além das habilitações académicas mais elevadas, os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros com menos idade e não casados apresentam índices mais elevados de insatisfação com a sua actividade laboral. Neste sentido, vários factores parecem ter impacto na satisfação no trabalho destes profissionais, nomeadamente, a remuneração, as promoções, o reconhecimento por parte das chefias e dos pares, as condições físicas de trabalho e os recursos existentes, as oportunidades de desenvolvimento pessoal Partindo desta preocupação pelo bem-estar profissional surgiu a intenção de compreender e aferir os determinantes da satisfação profissional dos enfermeiros militares portugueses. O objectivo geral deste trabalho é verificar se as características pessoais (o sexo, a idade, o estado civil e as habilitações académicas) e as características laborais (local trabalho, horário de trabalho, tipo de horário, tipo de vínculo, responsabilidade de supervisão, funções de gestão, especialidade e tempo de serviço) têm efeitos significativos na satisfação profissional dos enfermeiros. Neste contexto, emergem as seguintes hipóteses de investigação: : Verificar se a satisfação dos enfermeiros em relação às diferentes dimensões da satisfação depende de características como: Género; Idade; Habilitações literárias; Situação familiar; Local de residência; Tipo de horário; Tipo de vínculo; Tipo de responsabilidade na Unidade; Tipo de cargo (com função de gestão ou não); Especialidade; Tempo de serviço; e Categoria profissional. : Determinar, de entre as várias dimensões da satisfação para com a unidade de saúde, as que têm poder de predição da satisfação global. Face ao exposto, o método adequado ao tipo de investigação é caracterizado por investigação quantitativa. No presente estudo optou-se pela aplicação do questionário do Instrumento de Avaliação da Satisfação dos Profissionais (IASP) de Ferreira e Antunes (2009). Adaptado cultural e linguisticamente do Hospital Employee Judgment System (HEJS), desenvolvido por Nelson et al. (1992), com perguntas abertas e fechadas, a enfermeiros, no Hospital das Forças Armadas em Lisboa e no Pólo do Porto. No que diz respeito à análise e tratamento estatístico dos dados, recorremos ao software SPSS Statistics, onde, sempre que necessário, se considerou uma probabilidade de erro de tipo I de exactamente 5% (α = 0,05). Relativamente à amostra os enfermeiros são, na sua maioria, do sexo masculino (n=93;66.4%), residentes na zona centro e sul do país (n=108;80.6%), e em particular no distrito de Lisboa (n=67;50.0%), casados (n=77;56.2%) e com idade compreendida entre 26 e 55 anos (39.51±7.94). A quase totalidade deles tem um vínculo efectivo para com o Hospital (n=139;97.2%) e possuem a patente de Sargento (n=131;92.9%), sem função de gestão e/ou chefia (n=96;67.1%), com graduação ao nível de Licenciatura (n=133;95.0%) dos quais quase cerca de um terço é pelo menos pós- graduado (n=41;29.3%). Pouco mais de metade dos enfermeiros trabalha por turnos (n=72;50.3%) e desempenha um cargo com funções de responsabilidade de supervisão (n=76;53.5%) ao passo que apenas uma quantidade residual é especialista em alguma área (n=18;12.6%) sendo que dentro dessa minoria a especialidade dominante é “Enfermagem médico-cirúrgica” (n=8;44.4%). Finalmente, e no que à experiência diz respeito (tempo de serviço) podemos afirmar que estamos perante uma amostra de enfermeiros “principiantes”: não só a maior parte deles tem um tempo de serviço compreendido entre 5 e 10 anos (n=47;33.3%) como também aproximadamente metade dos enfermeiros inquiridos tem um tempo de serviço que não excede 10 anos (n=72;51.1%). A primeira parte da pesquisa foi exploratória, sendo a técnica de recolha de dados exclusivamente documental. A segunda parte do estudo foi dominada pelo método quantitativo sendo que o instrumento privilegiado para a recolha de dados foi o inquérito por questionário, o que possibilitou completar as informações recolhidas nos documentos escritos sobre as questões em estudo, bem como analisar a forma como algumas questões identificadas pelo modelo teórico proposto, são consideradas pelos enfermeiros, o que nos permitiu verificar as hipóteses teóricas avançadas. Assim, numa primeira fase foi aplicado um pré-teste a seis enfermeiros para adequação e reavaliação do instrumento, os quais por correio electrónico. Chegando-se à versão final do questionário que foi enviado por correio electrónico aos destinatários. O nosso estudo chegou à conclusão que: As características pessoais e profissionais dos enfermeiros tornaram-se preponderantes em alguns dos resultados obtidos. Verificamos que a satisfação profissional depende: do local de trabalho; da idade; do horário de trabalho; da responsabilidade perante outros (responsabilidade de supervisão perante outros) e das funções de gestão de serviços na unidade; Os enfermeiros com horário fixo, com responsabilidade de supervisão perante outros e com funções de gestão na Unidade onde prestam serviço têm, em média, um maior nível de satisfação na maioria das onze escalas neste estudo consideradas. A faixa etária e sobretudo o distrito de residência do enfermeiro são as características pessoais que mais condicionam o nível médio de satisfação. Das características (pessoais ou profissionais) que permitiram um estudo inferencial destaca-se o género e o tempo de serviço por não se mostrarem (para o nível de significância estipulado) condicionadores do nível médio de satisfação nas onze escalas analisadas. A satisfação com as chefias - faceta Superior Hierárquico e a satisfação com a qualidade da unidade de saúde na prestação de cuidados e a melhoria contínua da qualidade pesam na satisfação global percepcionada pelo enfermeiro. Já a satisfação global depende apenas do local de residência, mas sobretudo de factores ligados à profissão, ou seja, o tipo de horário, responsabilidade perante outros e funções de gestão de serviços na unidade.